quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Senil

Chamaste-me de senil,
Duma forma arrogante,
Sem porte senhoril,
Mesmo de forma pedante.

Meus cabelos são já cãs,
Pintados pela mão de Deus,
Deles me orgulho, de cores sãs,
Sem tintas e são muito meus.

Foi falta de urbanidade,
Tanta exibição para nada,
Por te julgares uma jovem.

Tua falta de humanidade,
Prova tua oca vaidade,
Em pisar outrem, outrem…

Marvila, 21 de Junho de 04
António Borges da Cunha

Se eu mandasse:

Mandaria apagar 50% das lâmpadas de iluminação pública;
Mandaria colocar prateleiras, junto dos supermercados e restaurantes, com os alimentos em fim de validade e no fim do dia, de forma higiénica, para que fossem aproveitados pelos necessitados;
Mandaria que os beneficiários do fundo de desemprego e de reinserção social vigiassem diariamente tais locais, a fim de que houvesse ordem e higiene;
Mandaria que os presos prestassem serviços à comunidade;
Refundaria a Orgânica do Estado, efectuando uma limpeza de leis inúteis e de interpretação ambígua, (todos sabem para que servem tais ambiguidades);
Reduziria a 50% os deputados;
Mandaria fazer um levantamento dos Institutos e Fundações, com seus quadros, custos, etc.
Colocaria as empresas públicas ao serviço do povo e responsabilizaria quem tomasse atitudes injustas;
Mandaria encerrar todas as Fundações que não fossem auto-suficientes;
Ordenaria que só poderiam desempenhar cargos públicos quem tivesse um currículo idóneo de honestidade.
Mandaria emitir mais 50% de euros e ao desvalorizar a moeda europeia facilitando as exportações e dariam mais liquidez às nações de acordo com a sua dimensão económica :
Proibiria todas as greves sugerindo manifestações nos fins de semana, enquanto durasse a crise. Sem trabalho nem para comer ganhamos, todos ficamos prejudicados;
Faria como AKBAR, ordenaria o respeito de todas as ideologias. Tolerância seria a magna carta social.
Ordenariam que todos os contratos estatais fossem elaborados por uma comissão de deputados de todas as cores políticas, para que o Estado não ficasse sempre na mó de baixo, dando o lombo e ficando com os ossos, como tem acontecido;
Se eu mandasse faria tanta coisa, se me deixassem.
Marvila, 15 de Novembro de 2010
António Borges da Cunha

PROVÉRBIOS DO POVO

Todos os homens são feitos do mesmo barro, contudo não o foram no mesmo molde.
Prov. Mexicano

Enquanto o tímido pensa, o valente trabalha e triunfa.
Prov. Grego

Com a mentira poderás ir longe, porém sem esperanças de regresso.
Prov. Judeu

As pessoas preocupam-se diariamente com o seu aspecto físico. Porque não se preocupam com o coração?
Prov. Chinês

As palavras são anões e as acções gigantes.
Prov. Suíço

Quando apontas um dedo esqueces que tens três voltados para ti.
Prov. Inglês

A União da família afasta os inimigos e honra os nossos antepassados.
Anónimo

O coração em paz vê uma festa em todas as aldeias.
Prov. Hindu

Aquele que procura um amigo sem defeitos arrisca-se a ficar só.
Prov. Turco

Faz um poço antes que tenhas sede.
Prov. Chinês

Não há árvore que o vento não tenha agitado.
Prov. Hindu

Nada abre melhor o nosso coração que um sorriso.
Prov. Mexicano

Sorri e sê cortês. Toda a gente gosta de pessoas optimistas e educadas.
Anónimo

Longo é o caminho do ensino teórico. Breve e eficaz é o exemplo.
Anónimo

Repara o teu trenó no Verão porque é o teu caminho no Inverno.
Prov. Arménio

Sê cauteloso ao prometeres, porque deverás honrar a promessa.
Anónimo

Se caíres sete vezes, levanta-te oito.
Prov. Chinês

Quando falares procura que as tuas palavras sejam melhores que o teu silêncio.
Prov. Hindu
Por Afonso Lopes Vieira
1878-1946

Se um inglês ao passar me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
se tens agora o mar e a tua esquadra ingente,
fui eu que te ensinei a nadar, simplesmente.
Se nas Índias flutua essa bandeira inglesa,
fui eu que t'as cedi num dote de princesa.
e para te ensinar a ser correcto já,
coloquei-te na mão a xícara de chá...

E se for um francês que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Recorda-te que eu tenho esta vaidade imensa
de ter sido cigarra antes da Provença.
Rabelais, o teu génio, aluno eu o ensinei
Antes de Montgolfier, um século! Voei
E do teu Imperador as águias vitoriosas
fui eu que as depenei primeiro, e ás gloriosas
o Encoberto as levou, enxotando-as no ar,
por essa Espanha acima, até casa a coxear

E se um Yankee for que me olhar com desdém,
Num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Quando um dia arribei á orla da floresta,
Wilson estava nu e de penas na testa.
Olhava para mim o vermelho doutor,
— eu era então o João Fernandes Labrador...
E o rumo que seguiste a caminho da guerra
Fui eu que to marquei, descobrindo a tua terra.

Se for um Alemão que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Eras ainda a horda e eu orgulho divino,
Tinha em veias azuis gentil sangue latino.
Siguefredo esse herói, afinal é um tenor...
Siguefredos hei mil, mas de real valor.
Os meus deuses do mar, que Valhala de Glória!
Os Nibelungos meus estão vivos na História.

Se for um Japonês que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Vê no museu Guimet um painel que lá brilha!
Sou eu que num baixel levo a Europa á tua ilha!
Fui eu que te ensinei a dar tiros, ó raça
belicosa do mundo e do futuro ameaça.
Fernão Mendes Zeimoto e outros da minha guarda
foram-te pôr ao ombro a primeira espingarda.

Enfim, sob o desdém dos olhares, olho os céus;
Vejo no firmamento as estrelas de Deus,
e penso que não são oceanos, continentes,
as pérolas em monte e os diamantes ardentes,
que em meu orgulho calmo e enorme estão fulgindo:
— São estrelas no céu que o meu olhar, subindo,
extasiado fixou pela primeira vez...
Estrelas coroai meu sonho Português!

P.S.

A um Espanhol, claro está, nunca direi: — Pois bem!
Não concebo sequer que me olhe com desdém.

Poema de agradecimento à corja

Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem
dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.
Joaquim Pessoa
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Joaquim Pessoa nasceu no Barreiro em 1948.
Iniciou a sua carreira no Suplemento Literário Juvenil do Diário de Lisboa.
O primeiro livro de Joaquim Pessoa foi editado em 1975 e, até hoje,
publicou mais de vinte obras incluindo duas antologias. Foram lhe
atribuídos os prémios literários da Associação Portuguesa de
Escritores e da Secretaria de Estado da Cultura (Prémio de Poesia de
1981), o Prémio de Literatura António Nobre e o Prémio Cidade de Almada.
Poeta, publicitário e pintor, é uma das vozes mais destacadas da
poesia portuguesa do pós 25 de Abril, sendo considerado um "renovador"
nesta área. O amor e a denúncia social são uma constante nas suas
obras, e segundo David Mourão Ferreira, é um dos poetas progressistas
de hoje mais naturalmente de capazes de comunicar com um vasto público.
Bibliografia: "O Pássaro no Espelho", "A Morte Absoluta", "Poemas de
Perfil", "Amor Combate", "Canções de Ex cravo e Malviver", "Português
Suave", "Os Olhos de Isa", "Os Dias da Serpente", "O Livro da Noite",
"O Amor Infinito", "Fly", "Sonetos Perversos", "Os Herdeiros do
Vento", "Caderno de Exorcismos", "Peixe Náufrago", "Mas.", "Por Outras
Palavras", "À Mesa do Amor", "Vou me Embora de Mim".
M. Fernanda

Pensamentos:

"A luz, por mais fraca que seja, vale mais que todas as trevas juntas."
Leonard Boff

"Onde há amor, há vida."
Mahatma Gandhi

Para pensar…

Primeiro levaram os negros,
Mas eu não me importei com isso,
Eu não era negro.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas eu não me importei com isso,
Eu também não era operário.

Depois prenderam os miseráveis,
Mas eu não me importei com isso,
Porque eu não sou miserável.

Depois agarraram nos desempregados,
Mas como tenho o meu emprego,
Também não me importei.

Agora estão me levando,
Mas já é tarde.
Como não me importei com ninguém,
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht
(1898-1956)

Inacreditável

Sucata a preço do ouro

De acordo com o que vem na Visão de 924 de Novembro uns “sábios portugueses” negociaram o aluguer de ferro velho espanhol a preço de ouro, isto é alugaram 17 automotoras e dois comboios, em péssimo estado por preço extremamente caro dado o estado de conservação dos mesmos que segundo a mesma notícia põem em causa a segurança dos passageiros.
Afinal que país é este? Não há responsáveis? Acho que devem ser responsabilizados criminalmente.
Penso que tais gestores deveriam ser responsabilizados criminalmente por tal negócio ou burla ou isto não pressupõe um negócio de má fé? Como tal deveria ser anulado.
Os passageiros deveriam negar-se a entrar em tais meios de transporte.
Alguém deve ter lucrado com este negócio.

Marvila,21 de Novembro de 2010
António Borges da Cunha

Espaço

Precisamos do nosso espaço,
Espaço conveniente para viver,
Largo espaço para bem pensar,
Muito, mesmo muito para dizer.

Dizer o que nos vai na alma,
Apontar o que está errado,
Observando tudo com calma,
Empurrando o que está parado.

Sem espaço morrem as flores,
Sem espaço todos nos finamos,
Sem ele não sobreviveremos.

O espaço pode-nos causar dores,
Mas com dores todos começamos,
Os grandes e mesmo os pequenos.

Marvila, 30 de Julho de 2005

António Borges da Cunha

As margens

Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas são as margens que o oprimem.
Bertolt Brecht

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Azulejo em Goa

Azulejo existente em Goa em que Vasco da Cama conta a história de Portugal
Instituto Menezes Bragança

Primavera

Percorri campos ao sol e ao vento,
Sempre a sonhar sem nunca parar,
Sorvi a suave brisa e o sol ardente,
Muitas e coloridas flores a brilhar.

Saltei muitos e humildes ribeiros,
Vi muitas e alegres aves cantando,
Dormi debaixo de verdes ulmeiros,
E vi as pacíficas nuvens passando.

Admirei o límpido azul do belo céu,
A Deus agradeci esta bela sinfonia,
Que se espraiava além pelo pinhal.

Debaixo dos ulmeiros o sol me deu,
E lentamente me ergui com alegria,
A casa regressando aliviado do mal.

Marvila, 25 de Outubro de 2010
António Borges da Cunha

Leiria

Rio Lis que passas sonolento,
Outrora de águas límpidas,
Seus peixes de cor argêntea,
Deixaram saudades infindas.

Contigo choro a lenta morte,
E os teus peixes envenenados.
Ferem-me a alma: Que sorte!
Por terem a sua vida minada.

Estão matando nosso mundo,
Dom herdado de nossos pais.
Não te conseguiremos deixar,

Como eras! Rio belo e fecundo!
Se falasses, ouviríamos teus ais,
Estou bem certo, estás a chorar.

Marvila, 20 de Outubro de 2010
António Borges da Cunha

Desonestidade é

Ter uma casa no norte e outra em Lisboa e dar a do Norte como residência oficial para efeitos de ajudas de custo;
Usar o carro do Estado em serviços pessoais;
Usar abusivamente o cartão de crédito em benefício próprio;
É haver três ou quatro… sistemas de reforma fazendo de uns verdadeiros Marajás e os outros
escravos. Eu até tinha pensado que a escravatura tinha acabado…mas parece que mudou de roupagens;
Haver instituições que não servem para nada sendo um sorvedouro do erário público e apenas prateleiras para os boys do partido;
Gastar milhares de euros em flores ou jantares, perante o estado calamitoso da economia deste pobre Portugal;
Gastar milhões de euros de euros em carros topo de gama;
Governar ditatorialmente, necessitando de diálogo, e ao mesmo tempo usando picardias provocatórias contra aqueles de quem precisa para que haja verdadeira democracia;
António Borges da Cunha

Carta de Eça de Queirós

O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido.
Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram.
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»

Escrito em 1871, por Eça de Queirós, no primeiro número d'As Farpas.

Brecht

"Há Homens que lutam um dia, e são bons;
Há Outros que lutam um ano, e são melhores;
Há Aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há Os que lutam toda a vida
Estes são Os imprescindíveis"

B. Brecht

A melhor herança

Os conhecimentos individuais são o primeiro caminho para um maior desenvolvimento dum país e consequentemente do seu povo.
Assim é urgente que os jovens se convençam que a ignorância só conduzirá à mediocridade, ao fraco nível económico que está intimamente relacionado com o baixo nível cultural e social dum povo.
Quem não cuida da sua valorização cultural vai mais tarde pagar caro o seu descuido ou desinteresse.
A condescendência reduz o nível cultural dum povo e mais tarde ou mais cedo terá uma prole de serventes e não de criadores e génios, etc.
Para se atingir a excelência é preciso auto disciplina individual e um bom nível educacional.
Sem estas regras estaremos a criar um povo que só saberá dar à sociedade mão-de-obra desqualificada.
Precisamos que se faça da educação o principal dilema dos nossos filhos.
Sem isso só brilharão os que de facto se dedicarem afincadamente na sua valorização cultural e educacional.
A melhor herança que os pais podem deixar aos filhos é uma sólida
preparação moral e cultural.
Marvila, 15 de Março de 2010
António Borges da Cunha

António Aleixo

Julgando um dever cumprir,
Sem descer no meu critério,
- Digo verdades a rir,
Aos que me mentem a sério!”
António Aleixo

Ao Castelo

Ai se as tuas pedras contassem,
Quanto diriam dos tempos idos!
Se tuas muralhas recordassem,
Lembrar-nos-iam quantos feridos.

As tuas pedras tão manchadas,
Com o sangue dos portugueses,
São, para nós, muito sagradas,
Sempre, sempre, não às vezes.

Honremos o esforço do passado,
Com dignidade e muito carinho,
Cantai para eles: honra e glória.

Torre de Menagem, tão avistada,
Sirva de guia em nosso caminho,
E sua Bandeira, a nossa memória.

António Borges da Cunha
Marvila, 30 de Outubro de 2010